Virada Cultural deve passar por reformulações em 2014
     
O desafio do evento é evitar que o banditismo roube os holofotes de suas boas atrações

Criada em 2005 pelo então prefeito José Serra, a Virada Cultural surgiu para oferecer à população, durante 24 horas, uma variada seleção de atrações gratuitas. Ela conseguiu galgar uma posição de destaque no calendário da capital e chegou à sua nona edição, concentrada no centro da cidade, nos últimos dias 18 e 19. Boa parte do brilho da festa, entretanto, foi ofuscada por preocupantes problemas registrados no evento.

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Houve várias ocorrências policiais, incluindo assassinato, morte por overdose, arrastões, furtos e brigas. Ninguém imagina que vá passar por nada disso quando sai de casa para se divertir. Os casos mais sérios envolveram a morte de dois jovens. O padeiro Elias Moraes Neto, de 19 anos, reagiu a um assalto na Avenida Rio Branco, por volta das 5 horas, e levou um tiro na cabeça. Outro rapaz, de 21 anos, sofreu uma parada cardiorrespiratória depois de consumir drogas, no Largo Santa Ifigênia.

Nos dias seguintes, houve até quem tentasse minimizar o banditismo, dizendo que o número dessas ocorrências era pequeno diante do público que compareceu ao evento (estimado em 4 milhões de pessoas). Tal argumento não resiste a uma análise mais séria. Grandes shows que atraem multidões ocorrem em várias partes do mundo sem deixar como saldo vítimas fatais.


 
 Parte dos 3420 PMs, de olho em furtos e arrastões (Foto: Reprodução / Veja SP)
 

Com investimento recorde de 10 milhões de reais, além de um contingente de 1400 guardas municipais e 3420 policiais militares, 400 a mais do que no ano passado, esperava-se que o paulistano fosse poupado, por exemplo, de precisar fugir de arrastões, em que grupos de bandoleiros urbanos passavam recolhendo de celulares a pares de tênis. Ocorreram doze desses arrastões, principalmente no caminho entre um palco e outro. “Quando olhei para trás, vi mais de 100 pessoas correndo e gritando”, conta o estudante de biologia Moreno Pereira, que estava no Largo do Arouche às 6 horas. “Quis logo ir embora.”

O senador Eduardo Suplicy teve a carteira e o celular furtados, mas por ser quem é pôde apanhar um microfone e fazer um apelo para que lhe devolvessem seus bens, privilégio fora do alcance de outras vítimas, como o publicitário Paulo Cassio, assaltado na área da Praça Roosevelt. “Três homens me bateram e pegaram o meu iPhone”, lembra.

Outros registros graves envolveram quatro pessoas baleadas e seis esfaqueadas, uma delas em pleno Viaduto do Chá durante a madrugada. Ruas com pouca iluminação, o que cabe à prefeitura melhorar e está longe de ser uma deficiência somente do evento, ajudaram na ação dos criminosos.

Foram presos 28 adultos e apreendidos nove adolescentes. “Como a Virada já existe há um bom tempo, o conhecimento logístico de segurança poderia ter sido mais bem aplicado”, afirma o sociólogo Guaracy Mingardi, especialista em segurança pública.Neste ano, o festival concentrou a maior parte de suas cerca de 970 atrações na área central. Ficaram de fora os quarenta CEUs, instalados em diversos bairros da capital, que participaram em 2012.iada Cultural


 
 O Chefs na Rua, apesar da falta de luz, foi um sucesso: 4 milhões de pessoas   marcaram presença (Foto: Reprodução / Veja SP)  

Entraves na infraestrutura atrapalharam. Houve atrasos e falhas na aparelhagem de som. A seção Chefs na Rua se destacou, com dez cozinheiros a mais do que no ano passado. Alguns dos participantes, porém, sofreram com a falta de luz, que durou duas horas e meia, dificuldade que já tinha causado confusão na edição anterior. Ainda assim, 90000 pratos, com preços entre 5 e 15 reais, foram vendidos.

A maior parte do público ficou satisfeita com o que viu em cima dos palcos, mas incomodada com os erros de organização e, logicamente, com a insegurança. Segundo uma pesquisa da Index-Vis, 75% dos frequentadores aprovaram a qualidade das atrações. Quase metade dos 1 077 entrevistados no levantamento, no entanto, apontou problemas nas áreas de segurança e limpeza, entre outras (veja o quadro ao lado).

Agora, a prefeitura e a PM prometem iniciar um trabalho de aprimoramento. “Queremos controlar o acesso aos palcos, pois assim pode ser feita uma abordagem preventiva para evitar armas e drogas”, afirma o comandante-geral da PM, coronel Benedito Roberto Meira. “Durante a madrugada, pensamos em concentrar as atrações em palcos em que a polícia tenha a oportunidade de intensificar a segurança”, diz o secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira. É fundamental que essas e outras medidas sejam realmente implementadas para que uma boa ideia como a Virada não se transforme em mais uma fonte de preocupação para os paulistanos.

Programação legal, organização frágil

O que diz uma pesquisa realizada durante o evento com 1 077 entrevistados *Fonte: Index-Vis

› 75% das pessoas ficaram satisfeitas com a qualidade das atrações

› 57% dos frequentadores que responderam à pesquisa pretendem voltar ao festival no ano que vem

 A organização da Virada deixou apenas 56% dos entrevistados satisfeitos

› 34% dos entrevistados acharam esta edição mais bem organizada que as anteriores

› Entre os principais problemas indicados, estão a falta de segurança e as falhas na estrutura de sanitários e na limpeza geral.

 


 
 (Foto: Reprodução / Veja SP)